Não é novidade que o momento atual pelo qual estamos passando tem despertado em todos cada vez mais a ansiedade, o estresse e também o tédio, devido à Pandemia do Covid-19 e ao distanciamento social. Junto a isso, além dessa situação de estarmos impossibilitados de fazer algumas atividades e tendo de ficar mais tempo dentro de casa, esse tédio implica também em alguns hábitos mais compulsivos, como a ingestão de maior quantidade de alimentos, por exemplo.
É natural que uma das consequências do contexto atual seja o maior consumo de alimentos. Devido a alguns vazios impostos pela própria quarentena e também pelo aumento de estresse. Tudo isso, desencadeia a sensação de descontrole, distanciamento ou pausa nas metas previstas para o ano que corre. Esse descontrole é inevitável, trazendo ainda maior desmotivação.
Assim como é compreensível comer um pouco a mais, devido a um contexto específico, como agora, também podemos exagerar em momentos como festas de final de ano, ou em um final de semana com amigos. E precisamos entender que isso não significa uma compulsão alimentar. Mas afinal, o que é de fato compulsão alimentar? É um transtorno?
O Transtorno de Compulsão Alimentar se caracteriza por episódios recorrentes de compulsão que são acompanhados de algumas características específicas, as quais causam sofrimento marcante, como:
- Ingerir uma quantidade de comida muito maior do que o esperado em um período determinado (normalmente inferior a duas horas);
- Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio;
- Comer mais rapidamente que o normal;
- Comer até se sentir desconfortavelmente cheio;
- Ingerir grandes quantidades de alimento sem estar com sensação física de fome;
- Comer sozinho, por vergonha do quanto se come;
- Sentir-se desgostoso, deprimido ou muito culpado logo em seguida.
Quando há essas características de maneira recorrente, ou seja, esse comportamento se mantém ao longo de dias, semanas ou meses e você o associa a sentimentos negativos, de difícil controle, está na hora de pedir ajuda. A compulsão alimentar tem tratamento e, o quanto antes você reconhece os prejuízos, bem como admite que precisa de ajuda, mais eficaz pode ser esse tratamento.
A Compulsão alimentar pode vir através de gatilhos e cada pessoa tem o seu gatilho, que podem: ser estressores interpessoais, dificuldades nas relações sociais, familiares, conflitos, problemas de autoestima, sentimentos negativos em relação a si mesmo, principalmente, relacionados ao corpo, peso e autoimagem, o tédio, algum trauma específico, restrições dietéticas em função da busca de um corpo imposto social e culturalmente, outros sintomas de depressão ou ansiedade manifestados juntamente ao comportamento compulsivo.
A prevenção para esse transtorno ocorre desde a infância, estimulando a criança a ter uma boa relação com os alimentos e não a enxerga-los como vilões. Muito disso, pode ser ensinado através do próprio exemplo da família, para esse indivíduo que está estabelecendo suas relações e vê na família sua principal referência. Auxiliar a criança e o adolescente na construção da sua autoestima, estimulando o amor próprio, enfatizando suas conquistas, promovendo o empoderamento e a autoconfiança, estabelecendo um ambiente seguro e incentivando a autonomia e independência necessárias para o fortalecimento da sua personalidade.
Se você identifica esses sintomas em você, ou alguém próximo, o primeiro passo é buscar ajuda profissional. O atendimento multiprofissional pode auxiliar muito no tratamento desse tipo de transtorno. Acompanhamento com nutricionista, psicólogo, psiquiatra, etc, pode ser bastante efetivo, visto que será necessário aprender a mudar hábitos e comportamentos. O psicólogo vai ajudar você a encontrar quais são os gatilhos ligados ao comportamento compulsivo e traçar, junto com os outros profissionais, estratégias para lidar com essas dificuldades. O acompanhamento psicológico ajuda você a descobrir as principais causas desse comportamento disfuncional, dando o suporte e orientação para o seu autoconhecimento, identificação de sintomas, reconhecimento da sua história, quais vazios emocionais você possui dentro de você e, tudo isso, é um processo na construção de uma melhor qualidade de vida e bem-estar.
Psicóloga do NASF – Carolina França
REFERÊNCIAS
Associação Americana de Psiquiatria-APA (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais– DSM- 5ªed. Porto Alegre: Artmed.